o impacto do programa Educador Social Voluntário na vida dos alunos da Rede Municipal de Ensino

A educação infantil inclusiva é a base para a construção de uma sociedade verdadeiramente plural e equitativa. Ao integrar crianças com diversas necessidades e habilidades desde os primeiros anos, as escolas se tornam ambientes ricos em aprendizado, empatia e respeito às diferenças. Em João Pessoa, o programa Educador Social Voluntário, implementado pela Secretaria de Educação e Cultura (Sedec-JP), tem se consolidado como uma iniciativa fundamental para promover essa inclusão, garantindo que cada criança tenha a oportunidade de se desenvolver plenamente e alcançar seu potencial. Mais do que um suporte, os educadores sociais são vistos como elos essenciais que garantem o desenvolvimento e a autonomia desses alunos, transformando a realidade de escolas, famílias e comunidades.

O programa é composto por profissionais que atuam em parceria com a equipe pedagógica das unidades de ensino. Sua função primordial é mediar as dificuldades da criança com o ambiente da sala de aula e o professor regular, oferecendo um acompanhamento personalizado que estimula o desenvolvimento cognitivo, a fala e a interação social.

“O Educador Social Voluntário de João Pessoa é um exemplo de como o investimento em inclusão, com profissionais dedicados e uma rede de apoio integrada, transforma vidas, promove a autonomia e garante um futuro mais promissor para todas as crianças. Então, eu só tenho a agradecer ao prefeito Cícero Lucena, que tem esse olhar inclusivo, e a todos os trabalhadores da Rede Municipal de Ensino que tanto se dedicam no dia a dia”, afirmou a secretária de Educação e Cultura da Capital, América Castro.

A diretora Edizelda Rodrigues de Almeida Andrade, do Ninho do Saber Arlete Almeida Nunes, no bairro do Geisel, descreve esses profissionais como “anjos da guarda”, que “não só cuidam, mas protegem, amam, tratam muito bem, estimulam nos ambientes da instituição, estimulando o cognitivo, estimulando a fala, e estimulando interação entre os alunos”.

Para se tornar um educador social voluntário, o interessado passa por um processo seletivo, que inclui prova e entrevista, além de uma formação inicial oferecida pela Prefeitura. A educadora social Cleone Melo, da Arlete Nunes, com mais de dois anos de programa, ressalta a importância do amor e do cuidado na prática. “Porque você tem que ter muito amor no que você faz. Se não for com amor, você não consegue. E ter muito cuidado no que está fazendo. E graças a Deus dá certo”, afirmou.

Thelma Falcão, educadora social voluntária na Escola Municipal Índio Piragibe, localizada no bairro de Mangabeira, destaca que a formação oferece “métodos que a gente aplica” para identificar e lidar com a desregulação das crianças.

Garantindo o direito à inclusão – A participação dos alunos no programa é condicionada à apresentação de um laudo médico que comprove a necessidade de acompanhamento. A diretora Edizelda Rodrigues explica que a matrícula é realizada online no início do ano e que, mesmo sem vaga imediata, a equipe busca alternativas em outras unidades para acolher a família e a criança.

A diretora da Escola Municipal Índio Piragibe, Rosane Gomes Sabino, reforça que não houve resistência ao acolhimento dos alunos atípicos por parte da comunidade escolar após a implantação do programa. Uma vez matriculada, a criança é assistida por um educador social, que pode ser designado para atendimento individual ou compartilhado. “Essa criança não fica fora da rede, ela vai ser assistida com quem a gente tem no momento e fica aguardando chegar o outro cuidador”, garante.

O professor Fabiano Marques, do Atendimento Educacional Especializado (AEE) da Escola Municipal Índio Piragibe, ressalta que o educador social é uma ferramenta em um sistema mais amplo, que depende da união de família, saúde e educação para promover a inclusão plena. “Hoje, nós garantimos o acesso, a permanência, mas a inclusão é um processo gradativo e de longo prazo”. A maioria dos alunos assistidos está no Transtorno do Espectro Autista (TEA), seguido por deficiência intelectual e, em menor número, deficiência física.

A assistência oferecida aos alunos vai além da sala de aula. O AEE, com profissionais como Adriana Pollari, do Ninho do Saber Arthur Antônio Belarmino, nos Bancários, e os professores Fabiano Marques e Carlos Eduardo Oliveira de Santos, da Escola Municipal Índio Piragibe, desempenha um papel crucial. Adriana explica que o trabalho na educação infantil é lúdico e dirigido, buscando desenvolver as habilidades da criança. O AEE funciona no contraturno, com atendimentos individuais e coletivos planejados com base na faixa etária, série e necessidades específicas dos alunos. “A gente tem esse cuidado com a faixa etária, com a série, com a similaridade das necessidades, e o suporte”, destaca Fabiano Marques.

A rede municipal também oferece o Transporte Escolar Acessível para alunos que preenchem os requisitos, garantindo que o cuidado se estenda desde a saída de casa até o retorno. A escola se torna um ambiente de aprendizado não apenas acadêmico, mas também de rotinas diárias e convívio social. Fabiano Marques enfatiza que o currículo é “flexibilizado” para atender às necessidades individuais, utilizando recursos concretos e audiovisuais. Ele complementa: “São crianças, não é porque tem um laudo que a gente tem que achar que é um bicho de sete cabeças, não. São crianças, criança brinca, criança chora, criança corre, criança cai, entende? Então, são crianças como qualquer outra”, explicou.

Parceria essencial – A colaboração entre educadores sociais, equipe pedagógica e famílias é a chave para o sucesso do programa. Adriana Pollari destaca que os educadores sociais, por estarem em contato diário com as crianças, fornecem informações valiosas sobre suas necessidades e progressos. “Elas também têm que trazer muitas coisas boas também, que elas estão ali com a criança mais perto, estão diariamente com elas. Então, ela tem um olhar bem específico, elas veem coisas que eu não vejo”, explica. Thelma Falcão reitera a importância do apoio do AEE: “A gente tem todo o suporte, sempre que a gente recorre quando a gente precisa de apoio, o AEE está sempre disponível”.

As formações e reuniões pedagógicas promovem a troca de conhecimentos e o alinhamento de estratégias. Carlos Eduardo Oliveira de Santos enfatiza que os educadores sociais são “nossos olhos em sala de aula” e que sua observação atenta é fundamental para o planejamento das ações do AEE. “Eu faço a entrevista, todos os dias eu pergunto como foi o comportamento dele”, explica. Ele também destaca que a participação familiar é crucial.

A Escola Índio Piragibe mantém um grupo de WhatsApp para comunicação com os pais do AEE, e a grande maioria das famílias é presente. Para Ana Patrícia dos Santos Marinho, professora do AEE do Ninho do Saber Arlete A. Nunes, “instituição sem família não existe. Tem que ser ajuda mútua”. Klívia Falcão, mãe de Samuel, percebe a evolução do filho na autonomia: “Muito mais desenrolado, independente”. Para ela, “quando a criança está sendo bem tratada, ela cria esse afeto, esse vínculo, e se desenvolve”, complementa.

Apoliana Katiúscia Fernandes Silveira, mãe de Ageu, de 8 anos, que tem Síndrome de Down e autismo, relata sua satisfação com a rede pública. “Eu me arrependi de não o ter colocado em escola pública, porque eu fui muito bem acolhida aqui nessa escola. Meu filho é bem assistido”. Em seis meses, Ageu já apresenta “mais intenção de fala”, “mais socialização” e “mais facilidade para seguir uma rotina”. Apoliana descreve o programa como “vida”, “um programa que reconhece o valor do ser humano”, e “de encorajamento, de amor e de dedicação”. E destaca o acolhimento dos colegas típicos. “Eles acolhem muito, ajudam ele nas tarefas. Tem muito esse amor”.

Jéssica Sena, mãe de Brian Kaleb, de 10 anos, e Breno Pietro, de 8 anos, ambos com TEA, elogia a equipe da Escola Índio Piragibe. “Profissionais incríveis, seres humanos exemplares, excelentes, são muito empáticos. Eles vão além do profissional, eles buscam ter um vínculo, um afeto com a criança”. Jéssica estima que seus filhos melhoraram em 80% na socialização e comunicação com o suporte do educador social, testemunhando o avanço de Brian em notas e desenvolvimento. “A criança está aqui, ela vai progredir, ela vai conseguir socializar, ela vai conseguir ter um avanço não só no âmbito pedagógico, mas também no âmbito social. Então, nota 10 para esse programa”, finaliza.

Programa desfaz preconceitos e constrói autonomia – A iniciativa tem sido fundamental para desmistificar preconceitos e garantir que a inclusão seja uma realidade nas escolas de João Pessoa. A diretora Edizelda Rodrigues observa que, antigamente, havia uma certa dificuldade em conseguir cuidadores, mas hoje a demanda é suprida com mais facilidade, e os educadores demonstram prazer em atuar.

A convivência entre crianças típicas e atípicas é um dos maiores ganhos do programa. Klívia Falcão ressalta a importância dessa interação para o desenvolvimento de seu filho. “Porque se for uma escola só para crianças especiais, eu não acho que eles vão se desenvolver, porque ele vê outras crianças fazendo, ele vai querer fazer também”. Cleone Melo observa o carinho das crianças típicas com as atípicas: “Muito, acolhe muito, é tão lindo. Os meninos chegam junto dele e fazem: ‘Tia Cleo, ele é muito lindo!’”.

Magali Mendes, educadora social e mãe de criança atípica, compartilha a percepção de que “o adulto é que tem preconceito, a criança não”, e que a união de ambos os públicos na escola é um “ganho muito grande”. Yasmin Oliveira, educadora social voluntária, relata o trabalho para integrar alunos mais fechados: “ele não gosta de abraço, mas eu me comunico, finge que estou apertando a mão de longe”.

A diretora Valclise Scarano Pereira Matos da Silva destaca o avanço significativo no cuidado com as crianças. “Em 2003 não se tinha conhecimento de crianças autistas. Hoje, não, hoje o avanço foi grande”. Para os educadores, a satisfação de ver a evolução dos alunos é imensa. Ana Paula dos Santos Silva comenta a transformação de Dante, que antes estranhava e chorava muito e hoje interage e come bem. Fernanda Cristina Alcântara, educadora social do Ninho do Saber Arthur Antônio Belarmino, se emociona ao ver a evolução de Marina. “Ela já começou a repetir palavras, então ela começou a chamar a tia que ela não falava, ela começou a pedir comida… é emocionante mesmo”, relatou.

Como afirma Carlos Eduardo Oliveira de Santos, professor da Escola Municipal Índio Piragibe, a luta é para que a criança “brinque, aprenda e interaja, tornando-se protagonista da vida dela”.