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Tarifaço prejudica empresas e geração de empregos, diz FecomercioSP

Por MRNews

A taxação de 50% sobre os produtos brasileiros que entrarem nos Estados Unidos (EUA) foi o tema do encontro As Medidas do Governo Trump e os Efeitos para o Brasil, organizado pelo Conselho de Relações Internacionais e pelo Conselho Superior de Economia, Sociologia e Política, da FecomercioSP.

O encontro, online, foi realizado nesta sexta-feira (1º), em São Paulo. Para a Fecomércio-SP, a medida contraria os pressupostos básicos do comércio global, penalizando as empresas, a geração de empregos e o crescimento econômico do Brasil.

“O enfraquecimento das relações comerciais entre os dois países compromete a disposição dos negócios para investir, agregar valor e ampliar a sua presença no mercado internacional, além de abalar a confiança entre duas nações, cuja relação é marcada pela longa tradição de cooperação comercial”, diz a entidade.

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Para o economista e pesquisador sênior no Policy Center for the New South, Otaviano Canuto, com a medida, e já calculando as exceções, o Brasil deve registrar redução do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 0,9% ao longo de um ano. “Em termos absolutos, o impacto é menor do que o que seria com os 50% para tudo. O impacto é negativo, mas ao mesmo tempo não é desastroso, a não ser do ponto de vista dos setores específicos, como carnes e frutas.”

O sociólogo e diretor de Estratégia da consultoria Arko Advice, Thiago de Aragão, observou que inúmeras empresas estão lutando para entrar na lista de isenção. Segundo Aragão, as negociações começam de fato quando os EUA publicam a lista dos isentos. “O que está acontecendo agora é que nós temos indústrias tentando se adaptar à realidade dentro da lista de isenção ou para uma tentativa de entrar nessa lista de isenção.”

Para o sociólogo, os setores que ficaram fora da lista podem ser incluídos se as negociações forem bem conduzidas nos próximos 30 ou 45 dias. Caso isso não ocorra, a terceira alternativa é buscar outros mercados. “Na pior das hipóteses, haverá diminuição nos investimentos se não for possível redirecionar a produção para o mercado que pague um valor similar.”

Aragão disse ainda que a permanência da taxação para alguns setores e produtos é estratégica e que, se a lista sair perfeita demais, o ímpeto de negociação e o senso de urgência do Brasil diminuem. Ele ressaltou que a forma como Trump estabelece as negociações não é novidade e que sempre há uma questão política envolvida para pressionar a outra parte.

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“Podemos identificar esse padrão em várias outras negociações. Se no Brasil é o Bolsonaro e o Supremo; no México, é o Fentanyl; no Canadá, é a questão do 51º estado; na União Europeia, é a anexação da Groenlândia; na África do Sul, é o apartheid inverso contra os africanos brancos; no Panamá, o canal do Panamá. Sempre há um gatilho político com um objetivo comercial. E esse gatilho político é voltado para gerar ansiedade.”

De acordo com o sociólogo, na carta enviada ao Brasil, essa estratégia fica muito clara, uma vez que o americano aponta dois tipos de insatisfação e uma saída para resolvê-las. “Se o acordo comercial for satisfatório, os outros assuntos vão se diluir, vão deixar de ser temas estruturais na relação ou na negociação. O Trump gosta de fechar negócios, e a forma dele de fechar negócio é um jogo de soma zero. Ele entende que precisa ganhar e apresentar uma vitória.”

O presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), Rubens Barbosa, que foi embaixador do Brasil no Reino Unido e nos Estados Unidos, destacou que, para resolver o atual impasse sem abrir mão da soberania e preservando os 200 anos de relações bilaterais com os EUA, não há outra alternativa senão separar a questão político-diplomática da negociação comercial. Para Barbosa, isso não está acontecendo.

“Há uma contaminação na negociação comercial pela influência das medidas tomadas pelos EUA na área política. E eu estou me referindo às sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Mas, com a decisão do ministro de pedir que o governo não faça sua defesa no exterior, fica mais fácil para o governo concentrar as suas atenções nas negociações comerciais.”

Barbosa ressalta que o Brasil negocia muito bem. Segundo ele, as empresas brasileiras foram para os EUA conversar com suas contrapartes americanas para que estas pressionem o governo local em função de seus próprios interesses. “E isso foi bem sucedido, porque afetou direta e positivamente perto de metade das exportações, gerando um alívio parcial do impacto negativo sobre o setor privado industrial e agrícola.”

Sobre a escalada político-diplomática, Rubens Barbosa afirma que o governo ‘precisa fazer alguma coisa’. “Não é possível ficar oito meses com a oposição bolsonarista em Washington, sozinha, falando para o governo americano o tempo todo, sem nenhuma participação do governo brasileiro para mostrar que o que estava sendo falado não correspondia à verdade, que o judiciário é independente, e tudo isso que nós sabemos.”

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